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Artigos / Colunas / Rosana Leite Antunes de Barros

27/12/2021 às 13:10

Violência ao parir

Esse é um tipo de violência muito frequente e que sempre aconteceu contra as mulheres. É dela, da mulher, todo o protagonismo do parto. O momento será marcado para todo o sempre na vida da família.

A mulher, após descobrir a gestação, começa a se preocupar como será a chegada do rebento, do parto. E justamente nesta hora que muitas delas acabam passando pela temida violência obstétrica. Não é possível um conceito único para o termo, mas, qualquer situação que venha causar constrangimento, humilhação, ou a agressão em si, pode se configurar. A cada situação diferente, onde a mulher não se sente acolhida e dona do seu corpo e parto, é possível vislumbrar a violência obstétrica.

A influenciadora Shantal Verdelho mencionou que se pode levar um tempo para a parturiente perceber que sofreu esse tipo de violência. Ela somente foi se dar conta do ocorrido quando assistiu ao vídeo que o marido gravou. A adrenalina é real. O que a mãe e o pai buscam é ver o filho ou a filha com saúde e bem. Fica evidente que pessoas agressivas se aproveitam da ocasião de fragilidade das partes para cometerem o delito. E o momento do parto é um desses. A influenciadora foi chamada pelo obstetra de uma série de xingamentos e expressões violentadoras como “viadinha”, “mimada”, “faz força, porra”.

Shantal ainda relata que não aceitou se submeter à episiotomia, e o médico a forçava, chamando-a de mimada. Segundo a vítima, o médico ainda comentou com o marido que ela havia ficado com a parte íntima - vagina -, totalmente acabada. O que a mulher tomou conhecimento, para sacramentar a violência, é que o “profissional” contou para várias pessoas que ela tinha ficado “arregaçada”.

A quase 13 anos atrás, como muitas mulheres, não percebi ter sido vítima de violência obstétrica. Também fiz questão absoluta do parto normal. Esperei todos os sinais, o momento do bebê, e o meu momento. Tudo esperado para a grande hora! O parir, tendo como principais a mãe e o filho. Lembro-me de ter feito três grandes forças e o meu filho coroado. Na quarta força, quando a médica assim me pediu, fez um sinal para a enfermeira que estava a acompanhando, e ela imprimiu força no início da barriga, momento em que aconteceu o nascimento. Também nada percebi. Criança nasceu, chorou, está com vida, felicidade! Passado um tempo, menos de um mês do ‘dar nascimento’, passei a rememorar todo o dia. Causou-me incômodo aquela enfermeira fazendo certa força em minha barriga. Pesquisei e descobri que se cuidava de uma manobra proibida pela medicina há muito tempo: a “manobra de Kristeller”. A OMS proíbe tal movimento, que inclusive já foi o suficiente para expulsar órgãos internos de mulheres, e causar danos irreparáveis nos rebentos. Para finalizar o que passei, a médica se dirige ao meu marido e o questiona se gostaria que me fizesse uma laqueadura naquele momento, sem que a dona do corpo fosse consultada. O meu marido imediatamente a responde: “não, ela não combinou isso com a senhora”.

De fato, essa é uma ocasião diferenciada e importante na vida da mulher, do pai quando acompanha, e da criança. Porém, é depositada certa confiança naqueles e naquelas profissionais, e, como disse a influenciadora/vítima, que deve ser lembrado com alegria e positividade, para não marcar o início da vida da criança com lembranças ruins.

O que deve ser premissa é que o parir precisa ser tranquilo, sem intercorrências a causar constrangimentos e memórias desagradáveis. As mulheres, pela dor física da dilatação, pelo temor em algo não sair como o esperado, costumam esquecer fatos desses dias. Todavia, rememorar e agir é primordial para evitar novos episódios criminosos. O caso, da Shantal, já está sendo investigado, como deve ser.   

Rosana Leite Antunes de Barros

Rosana Leite Antunes de Barros
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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