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Artigos / Colunas / Rosana Leite Antunes de Barros

21/02/2022 às 09:28

O sangue tem nome

“Mar vermelho”, “Aqueles dias”, “Código vermelho”, “Lua vermelha”, “O visitante do mês”, “Semana do tubarão” e “Maria sangrenta”, são alguns dos epítetos atribuídos à menstruação. A vida e a saúde reprodutiva da mulher sempre foram tratadas como tabu, por isso a dificuldade em se pronunciar o nome correto.

“Amiga, vou dar uns passos à sua frente e você olha, por favor, se não está manchado”. Essa é uma frase bastante comum entre as meninas e mulheres, como pedido para saber se a roupa não está manchada com sangue menstrual. Na escola, entre as adolescentes, que mais vergonha possuem do ciclo menstrual, até por ser uma situação relativamente nova da vida, o período menstrual é diferenciado e de muita vergonha.

Em regra, na família e amigas mais próximas a pergunta acontece em segredo para saber se a menina já menstruou. “Já ficou mocinha?”. Na verdade, a reprodução feminina é tratada com certo ‘cuidado’, porquanto, sempre foi ensinado para elas ser acanhada tal situação. Inclusive, a falta de denominação adequada sempre fez entender se cuidar de algo para ser escondido mesmo. Mas, nem todas as sociedades da ancestralidade possuíam a mesma opinião. Em algumas épocas era considerada como sinal divino e sagrado que aconteciam pelas mulheres serem especiais, e por aí afora. Por ser algo que faz parte da mulher, o machismo e a misoginia fizeram, principalmente para alguns países como o Brasil, o tema como embaraço para elas.

Uma pesquisa divulgada pelo ‘Estadão’ no ano de 2018 e encomendada por marcas de absorventes, onde foram entrevistadas 1,5 mil mulheres de cinco países, inclusive do Brasil. Segundo informado, 54% das mulheres tinham pouca ou nenhuma informação sobre a menarca (a primeira menstruação). Isso mostra que em casa e nas escolas o tema não é tratado com naturalidade, ou pouco discorrido. Ainda, 39% das mulheres ao pedirem absorvente emprestado o fazem em forma de segredo. Infelizmente, o estudo mostrou que 57% das mulheres se sentem sujas durante o período menstrual. E, 40% delas se sentem inseguras quando estão menstruadas. As falsas informações também acontecem, trazidas por ensinamentos das ascendentes: evitar andar descalça nesta época (43%); e, não lavar o cabelo e nem fazer bolos (31%).  Informações falsas prejudicam sobremaneira a higiene íntima das meninas e mulheres, dificultando que elas possuam o direito máximo de conhecer e conviver com o próprio corpo naturalmente.

O problema se tornou tão real, que não falar de menstruação fez com que meninas e mulheres de baixa renda sofressem com a pobreza menstrual por tanto tempo caladas. Quantas meninas e mulheres deixaram de estudar e trabalhar por falta de condições financeiras para comprar absorventes? Quantas mulheres em situação prisional fizeram uso de miolo de pão, jornal e retalhos por falta de absorvente íntimo? Essa discussão tomou espaços privilegiados no momento, para que as mulheres possam alcançar a moradia digna, escola de qualidade, saúde, e à saneamento básico a suprir carências. Mulheres, e homens também, passaram a compreender que elas precisam de ajuda, e que não preciso estar em determinado local para sentir empatia.

O fato de começar a falar abertamente sobre a saúde sexual e reprodutiva feminina trará outro olhar para o que antes era ‘proibido’. Claro, neste período, algumas mulheres apresentam sinais característicos como dor de cabeça ou cólica menstrual, dependendo do organismo de cada qual. Contudo, é natural! Nada que uma bolsa de água morna não resolva.

É com o ciclo menstrual que as mulheres sentem mudanças significativas em seu organismo. Assim, como existem dias bons e ruins, existem ciclos bons e ruins também.

Buscar o equilíbrio e entender que não se perfaz em castigo feminino, mas, sim, em um sinal do útero, é primordial para ficar de bem com o corpo e com ela que tem nome – menstruação.

Rosana Leite Antunes de Barros

Rosana Leite Antunes de Barros
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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