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Artigos / Colunas / Rosana Leite Antunes de Barros

11/04/2022 às 12:15

Onde está o fundamento?

Essa é uma pergunta que rondou a existência da existencialista Simone Lucie Ernestine de Marie Bertrand de Beauvoir, ou apenas, Simone de Beauvoir. Estaria na atualidade com 114 anos. Nasceu em 9 de janeiro de 1908, tendo falecido na sua cidade de nascimento, Paris, em 14 de abril de 1986.

A verdade é que a filósofa e escritora deu um ponto de partida com “O Segundo Sexo”, livro que continua sendo motivo de reflexão importante para o mundo. A obra apresenta situação tão conhecida e corriqueira para as mulheres quanto a experiências vivenciadas, tal como a vergonha e a autoculpabilização. Beauvoir foi extremamente corajosa em apresentar situações reais, mas ‘escondidas’ nos recônditos dos lares em pleno ano de 1949.

O corpo da mulher, já que se nasce e depois existe na essência, acaba sendo definido pela respectiva localização, pelas lentes dela. Os estereótipos e tabus acabam servindo de desculpas para firmar as terríveis discriminações que teimam em acontecer. É inegável que a biologia, o casamento, a esfera privada adstrita a elas, iniciação sexual e velhice, ainda são temáticas emblemáticas. Pensar que muitas situações não podem ser naturalizadas, tal como o cuidado para elas e o trabalho do lar, são problemas da sociedade. Politicamente as mulheres foram relegadas à invisibilidade, motivo pelo qual está até o presente momento difícil ser modificada essa condição. É dela: “É pelo trabalho que a mulher vem diminuindo a distância que a separava do homem, somente o trabalho poderá garantir-lhe uma independência concreta.”
 
A experiência humana retrata o que é o consciente universal. Beauvoir dita que as mulheres precisam reivindicar o próprio corpo. E assim, dizer da independência com o surgimento do corpo feminino para a esfera pública, com o respectivo desenvolvimento do labor ‘fora de casa’. E com esse pensamento, externar todo o entorno do que hoje ainda se vê. Existe muita ‘desculpa’ quando ocorrem delitos contra as mulheres como forma de ‘explicar’ que as mulheres sempre ‘motivam’ tais acontecimentos. Visível: quando se pergunta do porque determinada mulher foi assassinada pelo seu companheiro; qual o motivo da violência sexual sobre o que ela teria feito; se a mulher estaria ‘provocando’ o parceiro para ser surrada por ele. Quantas situações, e quantas explicações na voz de Simone de Beauvoir... Ditou: “Por vezes a palavra representa um modo mais hábil de se calar do que o silêncio.”

A filósofa tentava explicar que há dependência entre o corpo e a mente feminina. As mulheres ficam ‘aprisionadas’ em significados e experiências desenvolvidas nas respectivas vivências. É perceptível que as mulheres possuem a tendência a proteger os seus corpos, atentas a tudo que já passaram e pelo que a história tristemente retrata, ou não retrata sobre as mulheres. O machismo estrutural é algo temível, porém, que tem sido enfrentado por mulheres e homens.

Nas palavras dela dizer que “Somos todos seres humanos” é algo raso e que precisa de delimitação, já que não descreve fielmente cada ser, como deveria. Para ela, em sua célebre frase “Não se nasce mulher: torna-se mulher”, delimita o seu existencialismo e a construção de cada qual. Sim, revolucionariamente a edificação acontece a cada dia, motivo pelo qual se torna temerária a delimitação de gênero como ‘força’ com o nascimento.

A liberdade deve ser essência!  E para isso as mulheres devem ter como máxima a capacidade de ação, autodeterminação, independência e autonomia. Aliás, como exercer a cidadania sem a mais pura liberdade?

Simone de Beauvoir contribuiu sobremaneira para o movimento feminista, primordial como forma inicial do axioma sobre o ‘ser mulher’. Sentenciou: “Quisera que toda vida humana fosse pura e transparente liberdade.”

Rosana Leite Antunes de Barros

Rosana Leite Antunes de Barros
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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