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Artigos / Colunas / Rosana Leite Antunes de Barros

17/08/2022 às 11:36

Pela vida deles e delas

Dias atrás, no município de Marcelândia/MT, uma situação chamou muito atenção, pela mensagem delituosa. Em ambiente de rodeio, um palhaço do local, faz uma fala homofóbica.

Foi preciso assistir por diversas vezes o vídeo que circula na internet para acreditar que alguém proferiu aquelas palavras. Nas expressões do homem, que deveria fazer rir, desfere: “A maior tristeza de um pai é ter um filho ‘viado’ e não poder matar”. Na verdade, o homem trata a caça aos animais como grande alegria, como algo comum e que lhe faz bem. E, ainda, o fato de não poder assassinar o filho homossexual como algo ruim. Logo, em conclusão, esse senhor só consegue ficar feliz com a morte de animais e de pessoas que ele entende que não deveriam estar em sociedade.

A ONG ‘Mães pela Diversidade’ surgiu no ano de 2014 em São Paulo, e reúne mães e pais de crianças, adolescentes e adultos LGBTQIAP+. Foi criada por ascendentes preocupados com a violência, preconceito e discriminação contra os filhos e filhas desse segmento. É sabido que alguns membros dessa importante ONG perderam filhos e filhas para os crimes de ódio.

As estatísticas mostram que a expectativa de vida para esse recorte, mais especificamente para a letra T, é de 35 anos. E por qual motivo seria assim? Não há qualquer explicação para as muitas violências. O ódio despejado contra a população LGBT é manifestado como forma de rejeição que chega às raias do assassinato.  Segundo o Grupo Gay da Bahia, fundado em 1980, a cada 20 horas morre alguém LGBT no país, por ser LGBT.

Os relatos são grandes em afirmar da dificuldade, muitas vezes, da própria família em aceitar filhos e filhas LGBTQIAP+. E justamente por conta disso, a prostituição acaba sendo uma das únicas saídas para esse recorte, já que as oportunidades ficam escassas sem qualquer apoio. Se os direitos civis existem indistintamente, para essa população a passos lentos caminha. Estar em todos os lugares não lhes é possível, apesar de lhes ser de direito.

A profissionalização, o estudo, e a saúde são temas controversos e que merecem destaque para aqueles e aquelas que não são vislumbrados com igualdade. A discriminação vai muito além, com olhares a repudiar, fazendo com que elas e eles se sintam desconfortáveis em locais de grande circulação, máxime, dentro de instituições públicas. De forma que 73% dos estudantes LGBT informaram já terem sido agredidos verbalmente, e outros 36% fisicamente. A intolerância faz com que aproximadamente 58,9% acabem faltando as aulas pelo menos uma vez ao mês.

É de se preocupar, outrossim, com o alto índice de suicídio na juventude LGBT significativamente maior do que jovens heterossexuais. E a gravidade maior é que o suicídio acontece principalmente quando acontece a rejeição familiar.

Os pais e mães jamais devem querem se realizar em filhos e filhas. O amor maior vem justamente de não se escolher quem será seu filho ou filha. Amar demasiadamente durante uma fase da vida, e, depois, deixar de amar por LGBTfobia é inconcebível! Então só se ama aquele ou aquela que se porta de acordo com determinada expectativa?

A visibilidade é importante para permitir o diálogo da questão. Não há como conhecer sem saber do que se trata. Garantir direitos através de políticas públicas a se efetivarem é combater e enfrentar a violência frequente contra essa comunidade.

A ONG ‘Mães pela Diversidade’ existe, também, para ‘ensinar’ mães e pais o amor que deve existir de fato. A compreensão é premissa primeira. Não basta não ser LGBTfóbico... Palavras jogadas ao vento de que não é LGBTfóbico de nada adianta, se as ações ditam o contrário.

Voltando ao episódio criminoso de Marcelândia, aliás, que possui as belezas do Rio Manito, e não deveria ser lembrada pelo fato, fica evidente a homofobia nas palavras do homem. Não há qualquer possibilidade de complacência nas palavras dele. Não há humor em falas agressivas. É crime, e pronto!

O que conforta no momento é saber que as manifestações não estão reprimidas. Em cada letra, muitas são as histórias. A Parada LGBTQIAP+, que acontece em Cuiabá no próximo dia 27, é motivo de orgulho e reflexão...    

Rosana Leite Antunes de Barros

Rosana Leite Antunes de Barros
Rosana Leite Antunes de Barros é defensora pública estadual.
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