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18/10/2021 às 16:52

Microfísica do poder e mulheres

Michel Foucault na obra “Microfísica do Poder” trata do poder, avaliando o pensamento jurídico que na idade média ocorria em torno do rei, em detrimento dos seus súditos. Afirma o filósofo e sociólogo que o poder é visto e aplicado na sociedade estando em todos os lugares, como forma de dominação.

No universo dos gêneros, sem dúvida o feminino sente a todo instante esse tal ‘poder’, que interfere em sua liberdade. Ao abordar sobre soberania, disciplina e governamentalidade, Foucault apresenta a memória de dominação, com discursos e saberes quanto à obediência. E o que são os delitos sexuais vivenciados pelas mulheres?

Não há qualquer celeuma: quando uma mulher passa por situação a envolver delitos sexuais, o que o homem busca incessantemente é mostrar superioridade. Desejam eles que esse ‘poder’ do gênero masculino se estenda a evidenciar a elas ‘quem manda’. É uma das maiores tentativas masculinas em externar a força.

E não é à toa que a pesquisa denominada ‘Percepções sobre segurança das mulheres nos deslocamentos das cidades’, realizada pelos institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, com o apoio da ONU Mulheres e Uber mostrou a sensação de insegurança com que as mulheres se deslocam nas ruas. É do estudo que 81% das mulheres já sofreram violência em seus deslocamentos nas cidades. Somente 16% das mulheres e homens que trafegam sentem-se plenamente seguros e seguras.

Fica claro que elas não conseguem vivenciar o que eles já possuem. Existe arroubo na redução da participação delas na vida pública (escola, trabalho, lazer etc.). Mostrou-se que as maiores prejudicadas são alguns recortes de mulheres: população baixa renda, mulheres negras, LGBTQIAP+, com deficiência. A vulnerabilidade fica diretamente proporcional à insegurança de tráfego.

Ainda, 77% delas entendem serem os espaços públicos mais perigosos para elas. Ônibus, trem e metrô carregam alta taxa de insegurança para elas. Já os pontos de ônibus são considerados ainda mais perigosos para as mulheres. Outro dado assustador é que 54% delas já sofreram importunações sexuais em ônibus, e 67% das mulheres negras padeceram por racismo quando andavam a pé.

Quando Michel Foucault faz a sua análise sobre o poder, os corpos se constituem no verdadeiro estudo. O poder segundo ele é exercido de forma heterogênea, fazendo legitimar a obediência, dominando e docilizando corpos.

O poder está em todo lugar, quer nos discursos ou nas ações. Em se tratando do machismo estrutural, como não vislumbrar o poder visível do gênero masculino? Qual mulher tem a coragem de deslocar-se no escuro ou sozinha, tendo o conhecimento que alguns homens estarão no mesmo local?  

Pensar sobre as nossas relações de dominação e hierarquização deve ser tarefa constante para falar, combater e resistir às estruturas.
 
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