Imprimir

Imprimir Notícia

15/09/2021 às 18:24

'Ser mulher e receber este prêmio é muito importante, porque a gente está longe do centro hegemônico das artes', avalia Ruth

Priscila Mendes

As últimas parciais das votações do segundo turno do Prêmio PIPA On-line distanciavam do pódio a representante de Mato Grosso, a artista visual Ruth Albernaz. Mas, na segunda-feira (13), veio a surpresa: uma auditoria dos votos declarou a chapadense uma das duas vencedoras, dentre os 59 artistas selecionados do Brasil todo.

Um pódio muito significativo: ambas mulheres e, em primeiro lugar, a indígena Daiara Hori, do povo Yepá Mahsã, mais conhecido como Tukano.

Cada uma das campeãs receberá uma doação de R$ 5 mil.

O Prêmio PIPA é um dos mais importantes prêmios de artes visuais do país, organizado pelo Instituto PIPA desde 2010. Já passaram por ele os artistas mato-grossenses Gervane de Paula, Babu 78 e Benedito Nunes. É a primeira vez que premia uma mulher de Mato Grosso.

“Foi muita emoção, muita alegria por perceber a seriedade do Prêmio Pipa, a honestidade e o critério”, comentou Ruth ao Entretê, sobre a “recontagem” dos votos.

Ruth considera que a indicação ao prêmio é a parte mais importante: “Ali já está o reconhecimento”. E, registrou a importância do apoio dos votantes e da divulgação da participação feminina de Mato Grosso na competição nacional. “Sentir o apoio dos amigos no Prêmio PIPA foi a parte mais incrível [...]. Eu vejo que a gente criou uma rede de apoio e de querer que o prêmio viesse para cá e a gente conseguiu, porque a sociedade se engajou”.

A artista visual também avaliou a relevância simbólica da conquista. “Ser mulher e receber este prêmio é muito importante, porque, do ponto de vista geopolítico, a gente está num estado periférico, longe do centro hegemônico das artes do Brasil”, registra. “É difícil ampliar as fronteiras, criar pontes e romper essa bolha, mas a gente tem trabalhado bastante para isso”, arremata.

Saiba mais sobre as premiadas:

Ruth Albernaz, chapadense, é artista-bióloga; pós-doutoranda em Ensino na Amazônia; doutora em Biodiversidade e Biotecnologia, 2016; autodidata em arte, com pesquisa e produção artística voltadas para as conexões entre ser humano-natureza, cura/cuidar, saberes ancestrais e conservação da sociobiodiversidade. Ela produz pinturas, objetos, instalações e ilustrações. Atualmente, é uma das curadoras do Salão de Jovem Arte de Mato Grosso. Vive entre Cuiabá e Chapada dos Guimarães.

Daiara Hori pertence ao clã Uremiri Hãusiro Parameri do povo Yepá Mahsã, mais conhecido como Tukano. Nasceu em São Paulo em 1982, é artista, comunicadora independente, ativista dos direitos indígenas e pesquisadora em direitos humanos. O trabalho artístico se fundamenta na pesquisa sobre as tradições e a espiritualidade de seu povo, especialmente a partir do estudo sobre o Hori, que são as mirações produzidas pelo kahpi (ayahuasca).

 
 Imprimir