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09/12/2021 às 14:35

Médica diz que Mirella implorou para ficar em hospital: ‘internada eu não passo mal’

Para médica, madrasta queria deixar uma sequela na menina e sempre pedia um laudo ou diagnóstico da criança

Denise Soares

Médica diz que Mirella implorou para ficar em hospital: ‘internada eu não passo mal’

Mirella e a avó dela

Foto: Arquivo pessoal

A neurologista infantil Viviane Cabral, uma das médicas que atendeu a menina Mirella Poliana Chuê de Oliveira, de 11 anos, diz que a criança implorou para ficar ser internada em uma das vezes que passou pelo pronto-atendimento do Hospital Femina, em Cuiabá. A criança morreu em 13 de julho de 2019, vítima de envenenamento. 

A médica é uma das testemunhas ouvidas no Júri da madrasta de Mirella, Jaira Gonçalves de Arruda, de 43 anos, acusada de matar envenenada a enteada para ficar com a herança da criança. O júri começou pela manhã desta quinta-feira (9), na capital.

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O pedido de Mirella ocorreu no estacionamento do hospital em uma das vezes que a menina passou mal e foi levada até a unidade por Jaira e o pai da criança.

Viviane havia atendido Mirella na internação. A criança tinha um quadro de vômito, dores abdominais, febre alta, desorientação, convulsões e frequência cardíaca alta.

Ela já tinha sido atendida no Hospital Santa Rosa algumas semanas antes com os mesmos sintomas.

Nenhum exame identificou o que Mirella tinha. Ela era uma criança saudável e não usava nenhum medicamento. Os médicos chegaram a comentar que poderia até ser um problema psiquiátrico.

Como Mirella melhorou e não tinha mais nenhum sintoma anterior, recebeu alta. Mesmo assim, a médica pediu que o pai e a madrasta voltassem no outro dia para uma nova avaliação.

“Não voltaram. Dei meu número pessoal e não me ligaram, nem me responderam. Encontrei Mirella e a madrasta no estacionamento do pronto-atendimento alguns dias depois. Ela tinha passado mal novamente e me disse ‘tia, me interna. Quando eu interno, não passo mal”, relatou a médica.

Durante a internação, a médica começou a perceber os conflitos familiares entre a madrasta e a avó materna, Claudina Chuê. Jaira queria impedir a médica de falar com a avó.

“Ela veio para cima de mim com sete pedras na mão. Me disse: ‘o que você veio falar com ela?’. Ficou acusando a avó de querer tirar a Mirella do pai por causa do dinheiro”, lembrou.

Claudina disse para a médica que era impedida por Jaira de visitar a neta no hospital.

“A Jaira questionava muito o diagnóstico, parecia que ela queria que tivesse algo. Dei alta e não passei nenhum remédio para tomar em casa porque achava que a mulher [Jaira] poderia dar [intencionalmente]. Na outra vez que foi internada, ela me disse que havia dado um remédio [que contém ácido] de uma receita que a menina tinha de outro hospital”, recordou a médica.

A Perícia Oficial e Identificação Técnica (Politec) apontou que Mirella foi envenenada por Carbofurano, um inseticida que age sobre insetos, ácaros, e nematoides por contato ou após ingestão.

A médica explica que o remédio que Jaira deu, que contém ácido, se usado em doses altas, pode provocar problemas gástricos e vômito. Já o inseticida pode causar vômitos e alucinações.
 
Ela revelou ao júri que desconfiou do comportamento da madrasta. Jaira disse para Viviane que Mirella saiu do Hospital Santa Rosa na cadeira de rodas.

Viviane localizou e ligou para o médico que atendeu Mirella no hospital anterior.

Para sua surpresa, o colega disse que Mirella teve alta porque estava bem e saiu andando do hospital.

Depois desse encontro no estacionamento, Viviane disse que Jaira não retornou mais com a criança. Ela voltou a levar a criança para outros hospitais particulares toda vez que a menina passava mal.

Médicos não desconfiaram

Ao ser questionada se a equipe médica não desconfiou da possibilidade de envenenamento, Viviane respondeu que não.

“Nunca desconfiamos que ela foi envenenada, nunca passou pela nossa cabeça. Como ela internava e melhorava, ela [Jaira] não conseguia o objetivo. Ela queria deixar uma sequela na menina. Era nítida a necessidade de um laudo, diagnóstico ou motivo [da menina passar mal]”, frisou a médica.

Segundo a médica, a substância fungicida encontrada no corpo da menina não existe em nenhum medicamento. Ela explica que os exames de sangue e outros procedimentos feitos no hospital não detectariam o envenenamento.

“O que não batia é que ela melhorava, os exames estavam normais e a gente não conseguia ver o problema. Ela chegou, foi intubada, convulsionou, melhorou e ficou bem. Não batia”, disse.

A médica finalizou o depoimento dizendo que acredita que Mirella não teve sequelas porque sempre que passava mal, tendo convulsões, era socorrida ao hospital pela madrasta e pelo pai.
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